Varejo busca inspiração contra a crise
Gazeta Mercantil
Neste domingo começa em Nova York a 98ª convenção da National Retail Federation (NRF), o mais importante evento do varejo mundial. Na edição deste ano, a previsão é que a crise financeira global ganhe destaque e os debates devem se focar em soluções para minimizar os problemas com a queda nas vendas e a fuga de clientes.
Marcos Gouvêa de Souza, diretor geral da Gouvêa de Souza &MD, consultoria especializada em varejo, lidera a participação de um grupo de 150 executivos do setor varejista brasileiro no congresso.
De Nova York, ele conversou com a Gazeta Mercantil e falou sobre a grande expectativa pela palestra de Lee Scott, presidente do Wal-Mart Stores, e fez previsões sobre o futuro das varejistas nacionais. "Os setores menos concentrados e com menor participação internacional serão aqueles mais procurados pelos investidores estrangeiros". Para ele, informática e material de construção serão os segmentos em destaques em 2009.
Gazeta Mercantil - Apesar do mercado varejista brasileiro não estar experimentando o mesmo drama que o varejo mundial, já que as vendas no comércio por aqui ainda continuam crescendo, mesmo que em um ritmo menor, a expectativa dos empresários brasileiros parece grande em relação ao evento. O que eles podem esperar da NRF deste ano?
Na NRF do ano passado essa mudança dos ventos já era detectada e o evento mostrou como os varejistas e fornecedores dos Estados Unidos pretendiam encarar o problema. Algumas estatísticas sinalizam que mais de 148 mil lojas foram fechadas nos Estados Unidos no ano passado e são previstos novos fechamentos que podem chegar a 70 mil no primeiro semestre deste ano. Com a perspectiva de agravamento desse cenário, que é o que se prevê depois do pior Natal dos últimos 40 anos, a atenção de todos estará em avaliar o que deu melhores resultados do que foi implementado, o que falta implementar e como pretendem se posicionar face a esse quadro que deverá atingir seu ponto mais baixo ainda no primeiro semestre de 2009. O aprendizado virá de duas formas. Uma acompanhando e entendendo as ações adotadas. Outra exatamente envolvendo a forma de implementação. O modelo de gestão predominante no varejo brasileiro, em muitos segmentos e setores, tende a ser menos pragmático e focado nos resultados de curto prazo do que o que ocorre nos EUA e essa é uma discussão relevante para compararmos modelos e formas de analisar, implementar, controlar e cobrar resultados.
Gazeta Mercantil - Sustentabilidade também deve ser um assunto de destaque na convenção deste ano. Sabemos da importância do tema para as empresas, mas será que os empresários que participarão do evento não estão mais interessados em buscar soluções rápidas e práticas sobre como diminuir os efeitos da crise?
Sustentabilidade é e será um tema cada vez mais relevante, porém em escalas distintas segundo o porte, a visão e o momento de cada empresa.. Na verdade todos têm consciência de sua relevância, mas o tempo e os recursos humanos e materiais que serão dedicados dependem muito mais de onde aperta o calo no momento. Nenhuma empresa, em especial as mais estruturadas e organizadas, ignoram sua importância, mas entre salvar negócios e empregos no curto prazo ou salvar o planeta no médio e longo prazo, o tempo e os recursos a serem envolvidos serão redirecionados estrategicamente.
Gazeta Mercantil - Qual a expectativa do senhor quanto à palestra de Lee Scott, presidente do Wal-Mart Stores?
Tudo o que disser o maior varejista do mundo deve ser ouvido com muita atenção. A participação das vendas no Wal-Mart do mercado norte-americano é crescente, por conta do cenário de um consumidor mais pragmático, mais focado em valor, buscando preços mais competitivos e essa imagem eles criaram e sustentam de forma muito consistente. Se para qualquer outro varejista do mundo o que eles disserem é relevante, para os brasileiros, será muito mais. Incorporações, novos formatos, novos negócios, novos canais, novos serviços, aproveitamento de experiências internacionais em novos segmentos, apetite pela expansão global, tudo isso poderá ser sentido e avaliado considerando seus impactos no Brasil.
Gazeta Mercantil - A Gouvêa de Souza levou para o evento 150 executivos de importantes redes varejistas como Magazine Luiza, C&A e C&C. Qual a maior ânsia destes varejistas brasileiros no momento?
É a preocupação de ajustar as velas para um quadro de mudança da direção dos ventos, que foram fortes e constantes no passado recente e agora, além da mudança da direção, serão mais fracos, inconstantes e sujeitos a mudanças de direção diferentes por segmento de mercado. É importante lembrar que o setor de varejo no Brasil pouco dependeu de governo, regulamentações, estímulos, limitações à entrada de capital externo e sempre sobreviveu por exclusivos méritos próprios e, talvez por isso, não tenha se expandido mais internacionalmente, apesar da competência de sua atuação. É um bom momento para reflexões mais estratégicas e de longo prazo, conciliando com a necessidade de manter o crescimento dos negócios, ante a perspectiva do País se tornar ainda mais atraente ao capital externo, de corporações varejistas ou novos players, como fundos de investimentos, etc.
Gazeta Mercantil - Os investidores estrangeiros devem continuar interessados pelo varejo brasileiro?
Devem continuar, pela estrutura, maturidade e potencial do mercado, quando comparado com o cenário global. Os setores menos concentrados e com menor participação internacional serão aqueles mais procurados, permitindo avaliar que viveremos no País um processo de aumento da consolidação setorial e do nível de competitividade em todos os segmentos.
Gazeta Mercantil - Em 2007, vivemos um momento de muitas fusões e aquisições no varejo. O momento atual de crise mundial pode favorecer, de alguma forma, uma retomada desse processo? Por exemplo: de acordo com alguns empresários, os preços de imóveis estariam voltando a patamares mais justos. Isso pode favorecer a realização de um novo momento de aquisições?
Deve e favorecerá, porém com novos players no jogo, além das próprias corporações de varejo, pois existem claras oportunidades e necessidades de consolidações setoriais, para a criação de empresas mais competitivas, estruturadas e estrategicamente direcionadas para a ampliação de negócios.
Gazeta Mercantil - Recentemente, o presidente do Grupo Pão de Açúcar, Cláudio Galeazzi, disse que a companhia está disposta a realizar aquisições este ano. Além do interesse por supermercadistas regionais, o varejista está de olho em empresas de outros segmentos como o de drogarias e postos de combustíveis. Como o senhor vê esta diversificação?
O perfil da corporação de varejo atual é multicanal de vendas, multiformato de lojas, multibandeira, multimarcas e multinegócios, com crescente incorporação de serviços e novas áreas de negócios ao âmbito de atuação. O grupo Pão de Açúcar tenderá a buscar, até onde percebemos, a excelência em suas operações atuais e, ao mesmo tempo, criar condições para otimizar suas estruturas, conhecimento de mercado, poder de compra, competência gerencial e integração global em outras áreas. Da mesma forma como outros grupos varejistas estarão também fazendo.
Gazeta Mercantil - No ano passado, previa-se que empresas do setor de franquias dariam início a um processo de abertura de capital no Brasil, a exemplo do que ocorre em outros países. Essa perspectiva está mantida? Quando as franquias devem começar a lançar ações no mercado?
O que foi percebido é que muitas ofertas iniciais de ações foram fruto de sonhos de uma noite de verão que encontram um mercado excitado e menos rigoroso nas avaliações da consistência, equilíbrio e capacidade gerencial e de implementação, além das questões estruturais e estratégicas do que se propunha. E isso vale para todos os setores. Poucas empresas, muito poucas, do setor de franquias estão prontas, estruturadas e com uma proposta estratégica consistente para se proporem a lançarem ações, em especial nos próximos dois anos.
Gazeta Mercantil - Algum segmento do varejo deve ter destaque especial este ano?
A redução da velocidade de expansão da indústria automobilística deve irrigar outros setores do comércio e do varejo, mas informática e material de construção devem ser setores onde a tendência de crescimento será maior que a média do varejo.(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)(Cintia Esteves)
Neste domingo começa em Nova York a 98ª convenção da National Retail Federation (NRF), o mais importante evento do varejo mundial. Na edição deste ano, a previsão é que a crise financeira global ganhe destaque e os debates devem se focar em soluções para minimizar os problemas com a queda nas vendas e a fuga de clientes.
Marcos Gouvêa de Souza, diretor geral da Gouvêa de Souza &MD, consultoria especializada em varejo, lidera a participação de um grupo de 150 executivos do setor varejista brasileiro no congresso.
De Nova York, ele conversou com a Gazeta Mercantil e falou sobre a grande expectativa pela palestra de Lee Scott, presidente do Wal-Mart Stores, e fez previsões sobre o futuro das varejistas nacionais. "Os setores menos concentrados e com menor participação internacional serão aqueles mais procurados pelos investidores estrangeiros". Para ele, informática e material de construção serão os segmentos em destaques em 2009.
Gazeta Mercantil - Apesar do mercado varejista brasileiro não estar experimentando o mesmo drama que o varejo mundial, já que as vendas no comércio por aqui ainda continuam crescendo, mesmo que em um ritmo menor, a expectativa dos empresários brasileiros parece grande em relação ao evento. O que eles podem esperar da NRF deste ano?
Na NRF do ano passado essa mudança dos ventos já era detectada e o evento mostrou como os varejistas e fornecedores dos Estados Unidos pretendiam encarar o problema. Algumas estatísticas sinalizam que mais de 148 mil lojas foram fechadas nos Estados Unidos no ano passado e são previstos novos fechamentos que podem chegar a 70 mil no primeiro semestre deste ano. Com a perspectiva de agravamento desse cenário, que é o que se prevê depois do pior Natal dos últimos 40 anos, a atenção de todos estará em avaliar o que deu melhores resultados do que foi implementado, o que falta implementar e como pretendem se posicionar face a esse quadro que deverá atingir seu ponto mais baixo ainda no primeiro semestre de 2009. O aprendizado virá de duas formas. Uma acompanhando e entendendo as ações adotadas. Outra exatamente envolvendo a forma de implementação. O modelo de gestão predominante no varejo brasileiro, em muitos segmentos e setores, tende a ser menos pragmático e focado nos resultados de curto prazo do que o que ocorre nos EUA e essa é uma discussão relevante para compararmos modelos e formas de analisar, implementar, controlar e cobrar resultados.
Gazeta Mercantil - Sustentabilidade também deve ser um assunto de destaque na convenção deste ano. Sabemos da importância do tema para as empresas, mas será que os empresários que participarão do evento não estão mais interessados em buscar soluções rápidas e práticas sobre como diminuir os efeitos da crise?
Sustentabilidade é e será um tema cada vez mais relevante, porém em escalas distintas segundo o porte, a visão e o momento de cada empresa.. Na verdade todos têm consciência de sua relevância, mas o tempo e os recursos humanos e materiais que serão dedicados dependem muito mais de onde aperta o calo no momento. Nenhuma empresa, em especial as mais estruturadas e organizadas, ignoram sua importância, mas entre salvar negócios e empregos no curto prazo ou salvar o planeta no médio e longo prazo, o tempo e os recursos a serem envolvidos serão redirecionados estrategicamente.
Gazeta Mercantil - Qual a expectativa do senhor quanto à palestra de Lee Scott, presidente do Wal-Mart Stores?
Tudo o que disser o maior varejista do mundo deve ser ouvido com muita atenção. A participação das vendas no Wal-Mart do mercado norte-americano é crescente, por conta do cenário de um consumidor mais pragmático, mais focado em valor, buscando preços mais competitivos e essa imagem eles criaram e sustentam de forma muito consistente. Se para qualquer outro varejista do mundo o que eles disserem é relevante, para os brasileiros, será muito mais. Incorporações, novos formatos, novos negócios, novos canais, novos serviços, aproveitamento de experiências internacionais em novos segmentos, apetite pela expansão global, tudo isso poderá ser sentido e avaliado considerando seus impactos no Brasil.
Gazeta Mercantil - A Gouvêa de Souza levou para o evento 150 executivos de importantes redes varejistas como Magazine Luiza, C&A e C&C. Qual a maior ânsia destes varejistas brasileiros no momento?
É a preocupação de ajustar as velas para um quadro de mudança da direção dos ventos, que foram fortes e constantes no passado recente e agora, além da mudança da direção, serão mais fracos, inconstantes e sujeitos a mudanças de direção diferentes por segmento de mercado. É importante lembrar que o setor de varejo no Brasil pouco dependeu de governo, regulamentações, estímulos, limitações à entrada de capital externo e sempre sobreviveu por exclusivos méritos próprios e, talvez por isso, não tenha se expandido mais internacionalmente, apesar da competência de sua atuação. É um bom momento para reflexões mais estratégicas e de longo prazo, conciliando com a necessidade de manter o crescimento dos negócios, ante a perspectiva do País se tornar ainda mais atraente ao capital externo, de corporações varejistas ou novos players, como fundos de investimentos, etc.
Gazeta Mercantil - Os investidores estrangeiros devem continuar interessados pelo varejo brasileiro?
Devem continuar, pela estrutura, maturidade e potencial do mercado, quando comparado com o cenário global. Os setores menos concentrados e com menor participação internacional serão aqueles mais procurados, permitindo avaliar que viveremos no País um processo de aumento da consolidação setorial e do nível de competitividade em todos os segmentos.
Gazeta Mercantil - Em 2007, vivemos um momento de muitas fusões e aquisições no varejo. O momento atual de crise mundial pode favorecer, de alguma forma, uma retomada desse processo? Por exemplo: de acordo com alguns empresários, os preços de imóveis estariam voltando a patamares mais justos. Isso pode favorecer a realização de um novo momento de aquisições?
Deve e favorecerá, porém com novos players no jogo, além das próprias corporações de varejo, pois existem claras oportunidades e necessidades de consolidações setoriais, para a criação de empresas mais competitivas, estruturadas e estrategicamente direcionadas para a ampliação de negócios.
Gazeta Mercantil - Recentemente, o presidente do Grupo Pão de Açúcar, Cláudio Galeazzi, disse que a companhia está disposta a realizar aquisições este ano. Além do interesse por supermercadistas regionais, o varejista está de olho em empresas de outros segmentos como o de drogarias e postos de combustíveis. Como o senhor vê esta diversificação?
O perfil da corporação de varejo atual é multicanal de vendas, multiformato de lojas, multibandeira, multimarcas e multinegócios, com crescente incorporação de serviços e novas áreas de negócios ao âmbito de atuação. O grupo Pão de Açúcar tenderá a buscar, até onde percebemos, a excelência em suas operações atuais e, ao mesmo tempo, criar condições para otimizar suas estruturas, conhecimento de mercado, poder de compra, competência gerencial e integração global em outras áreas. Da mesma forma como outros grupos varejistas estarão também fazendo.
Gazeta Mercantil - No ano passado, previa-se que empresas do setor de franquias dariam início a um processo de abertura de capital no Brasil, a exemplo do que ocorre em outros países. Essa perspectiva está mantida? Quando as franquias devem começar a lançar ações no mercado?
O que foi percebido é que muitas ofertas iniciais de ações foram fruto de sonhos de uma noite de verão que encontram um mercado excitado e menos rigoroso nas avaliações da consistência, equilíbrio e capacidade gerencial e de implementação, além das questões estruturais e estratégicas do que se propunha. E isso vale para todos os setores. Poucas empresas, muito poucas, do setor de franquias estão prontas, estruturadas e com uma proposta estratégica consistente para se proporem a lançarem ações, em especial nos próximos dois anos.
Gazeta Mercantil - Algum segmento do varejo deve ter destaque especial este ano?
A redução da velocidade de expansão da indústria automobilística deve irrigar outros setores do comércio e do varejo, mas informática e material de construção devem ser setores onde a tendência de crescimento será maior que a média do varejo.(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)(Cintia Esteves)
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