CASE: EMPREENDEDORISMO
Juan Rodrigues, empreendendo em famíliaA história de empreendedorismo de Juan Rodrigues iniciou-se na geração anterior, movida, segundo ele próprio, por forças da circunstância.
Seu pai, militar espanhol, que após derrota na guerra civil passava por momentos de dificuldade, necessitava sustentar sua família e encontrou como saída comercializar produtos básicos, como alimentos e especiarias a uma região que foi devastada e estava excluída devido à guerra. Ainda na Espanha, chegou a abrir uma loja, mas sem muito sucesso decidiu-se mudar com a família para o Brasil, um país ainda completamente desconhecido.
As economias da família foram praticamente esgotadas com a viagem e estavam sem dinheiro em um país em que nem falavam a língua. Passado algum tempo, conseguiram reunir recursos para comprar uma chácara para plantar verduras. Os filhos, entre eles Juan, com cerca de cinco anos, eram encarregados de vender em feiras os produtos plantados.
Juan contou que sempre trabalhou muito desde cedo e já aos doze anos conseguiu comprar sua primeira bicicleta para fazer as vendas e entregas de verduras em Penápolis, interior de São Paulo. Durante a juventude, economizou para comprar seu primeiro caminhão e quando alcançou seus dezoito anos já era atacadista de verduras.
Por isso, Juan Rodrigues acredita fielmente que a ocasião faz o empreendedor. Outro fator que influenciou fortemente sua carreira empreendedora foi o fato de ter começado a trabalhar desde cedo, partilhando a responsabilidade de sustentar a família.
O início da carreira empreendedora
O primeiro negócio de Juan iniciou-se durante sua adolescência. Já a empresa de importação que administra atualmente, foi criada no início dos anos 90 por sua irmã e pelo cunhado, que posteriormente o convidaram a participar do negócio. Naquela época, Juan já atuava como atacadista há 28 anos e sentia-se cansado da atividade, que exigia turnos de trabalho incomuns (das 18h às 6h) e não havia permitido a ele, durante todo esse tempo, que tivesse férias.
Nunca tive férias. Hoje em dia tiro de 15 a 20 dias todo ano, e essas férias são mais importantes que os dias de trabalho. Você volta com uma gana, uma vontade que você já não tinha. Ajuda nos negócios..
Momento crítico e momento de satisfação
Para Juan, o momento mais crítico do negócio foi a época da crise cambial, por volta de 1999, quando a moeda norte americana valorizou-se violentamente, minando seu mercado e elevando suas dívidas em dólar. Naquele tempo Juan utilizava muito as linhas de crédito para importação, mas não possuía políticas de hedging (proteção às oscilações cambiais). Em suas palavras: "Dormi com a Tiazinha e acordei com a Aracy de Almeida!".
O momento de maior satisfação está sendo vivido agora, ano em que o negócio está despontando e que a empresa está sendo tomada como referência no mercado. Juan expressa sua felicidade ao comentar que seus produtos estão constantemente na mídia, principalmente a especializada, ganhando importantes prêmios de qualidade, além de receber numerosos convites para participar de eventos, degustações eparcerias.
Formação e conhecimento
Juan não fez faculdade, diz que aprendeu com a escola da vida, mas ressalta a importância do ensino básico e ginasial: "O ensino fundamental é fundamental!". Juan não continuou com os estudos, pois precisava trabalhar e a conciliação estava inviável. A busca por conhecimento, porém, nunca cessou. Ávido por conhecimento, buscou especializar-se no que dizia respeito ao seu negócio e hoje, humildemente, esbanja conhecimento sobre vinhos, principalmente os espanhóis. A entrevista permitiu perceber, também, que Juan é bem dotado de cultura geral, fala tranqüilamente sobre política, economia e sociedade.
Pontos fortes e fracos que influenciam no negócio
Para Juan, seu principal ponto forte é o trabalho. Trabalho muito, vou atrás. Faço qualquer negócio, desde que coloque meus vinhos na loja. Perguntado sobre como se sentiu quando conquistou o primeiro cliente, respondeu de pronto: "Quando fiz o primeiro contrato não comemorei, já comecei a pensar no segundo".
Como ponto fraco, Juan considera ser sua postura ética perante os concorrentes, que não respeitam praticamente nada e estão sempre prontos para prejudicar seus negócios, custe o que custar. Para Juan, muitas vezes a ética atrapalha o crescimento, mas ainda assim ele prefere optar pela ética.
Sócios
Os sócios, além de familiares, possuem ótima relação de confiança e cooperação. Os sócios se complementam e se dão bem. "Somos um time. Um chuta com a esquerda, outro com a direita e o outro cabeceia para o gol! Discussões e divergências existem, mas sempre são superadas", complementa Juan.
Riscos e recursos
Quando veio o convite para deixar a atividade de atacadista e arriscar-se em um novo negócio, Juan não titubeou e aceitou a proposta. Dali por diante iniciou nova jornada empreendedora, desbravando um mercado desconhecido por completo: "Vim porque me parecia um desafio, com 40 anos mudar completamente de ramo e de atividade. Me sentia um garoto". Apesar de mostrar-se disposto a arriscar, Juan afirma que não gosta de arriscar, mas isso é algo que não se controla: "Não gosto de riscos, mas tem que assumir, senão não vendo. O risco não está a nosso alcance. É incontrolável".
No início do negócio não possuía recursos suficientes e precisou recorrer a empréstimos e cartas de crédito de bancos. Juan mostrou sua indignação com o sistema de crédito brasileiro, apontando que não há, de fato, linhas de crédito voltadas para o pequeno empresário no país, nem mesmo com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). "Tudo é muito burocrático e as taxas de juros ainda são altas".
Lado positivo e lado negativo de ser empreendedor
O lado positivo está relacionado às conquistas e superações por que passou ao longo de sua vida, empreendedor de verdade é aquele que saiu do nada e empreende alguma coisa, inicia um negócio. O lado negativo é o fato de já começar o negócio com dívida, o que é muito comum, segundo Juan. "É duro começar sem dinheiro, reforçando a questão das dificuldades enfrentadas pelos empresários iniciantes no Brasil em relação ao sistema financeiro do país".
Com relação ao futuro, Juan está otimista: "A Espanha é a nova locomotiva do mercado de vinhos de qualidade". Sua expectativa é de que os vinhos espanhóis passem a ganhar espaço no mercado nacional e está confiante também que seus contratos de exclusividade reservam para sua carteira os melhores produtos da Espanha.
Conselhos que daria a um empreendedor iniciante
"Não peça empréstimos".
"Não tenha medo de nada. Para cada dificuldade, existe uma solução."
"Vá quebrar a cara."
"Se puder, faça uma pesquisa de mercado, conheça o mercado."
"Trabalhe muito."
* Entrevista realizada por Caio C. P. Ferraz Júnior
Seu pai, militar espanhol, que após derrota na guerra civil passava por momentos de dificuldade, necessitava sustentar sua família e encontrou como saída comercializar produtos básicos, como alimentos e especiarias a uma região que foi devastada e estava excluída devido à guerra. Ainda na Espanha, chegou a abrir uma loja, mas sem muito sucesso decidiu-se mudar com a família para o Brasil, um país ainda completamente desconhecido.
As economias da família foram praticamente esgotadas com a viagem e estavam sem dinheiro em um país em que nem falavam a língua. Passado algum tempo, conseguiram reunir recursos para comprar uma chácara para plantar verduras. Os filhos, entre eles Juan, com cerca de cinco anos, eram encarregados de vender em feiras os produtos plantados.
Juan contou que sempre trabalhou muito desde cedo e já aos doze anos conseguiu comprar sua primeira bicicleta para fazer as vendas e entregas de verduras em Penápolis, interior de São Paulo. Durante a juventude, economizou para comprar seu primeiro caminhão e quando alcançou seus dezoito anos já era atacadista de verduras.
Por isso, Juan Rodrigues acredita fielmente que a ocasião faz o empreendedor. Outro fator que influenciou fortemente sua carreira empreendedora foi o fato de ter começado a trabalhar desde cedo, partilhando a responsabilidade de sustentar a família.
O início da carreira empreendedora
O primeiro negócio de Juan iniciou-se durante sua adolescência. Já a empresa de importação que administra atualmente, foi criada no início dos anos 90 por sua irmã e pelo cunhado, que posteriormente o convidaram a participar do negócio. Naquela época, Juan já atuava como atacadista há 28 anos e sentia-se cansado da atividade, que exigia turnos de trabalho incomuns (das 18h às 6h) e não havia permitido a ele, durante todo esse tempo, que tivesse férias.
Nunca tive férias. Hoje em dia tiro de 15 a 20 dias todo ano, e essas férias são mais importantes que os dias de trabalho. Você volta com uma gana, uma vontade que você já não tinha. Ajuda nos negócios..
Momento crítico e momento de satisfação
Para Juan, o momento mais crítico do negócio foi a época da crise cambial, por volta de 1999, quando a moeda norte americana valorizou-se violentamente, minando seu mercado e elevando suas dívidas em dólar. Naquele tempo Juan utilizava muito as linhas de crédito para importação, mas não possuía políticas de hedging (proteção às oscilações cambiais). Em suas palavras: "Dormi com a Tiazinha e acordei com a Aracy de Almeida!".
O momento de maior satisfação está sendo vivido agora, ano em que o negócio está despontando e que a empresa está sendo tomada como referência no mercado. Juan expressa sua felicidade ao comentar que seus produtos estão constantemente na mídia, principalmente a especializada, ganhando importantes prêmios de qualidade, além de receber numerosos convites para participar de eventos, degustações eparcerias.
Formação e conhecimento
Juan não fez faculdade, diz que aprendeu com a escola da vida, mas ressalta a importância do ensino básico e ginasial: "O ensino fundamental é fundamental!". Juan não continuou com os estudos, pois precisava trabalhar e a conciliação estava inviável. A busca por conhecimento, porém, nunca cessou. Ávido por conhecimento, buscou especializar-se no que dizia respeito ao seu negócio e hoje, humildemente, esbanja conhecimento sobre vinhos, principalmente os espanhóis. A entrevista permitiu perceber, também, que Juan é bem dotado de cultura geral, fala tranqüilamente sobre política, economia e sociedade.
Pontos fortes e fracos que influenciam no negócio
Para Juan, seu principal ponto forte é o trabalho. Trabalho muito, vou atrás. Faço qualquer negócio, desde que coloque meus vinhos na loja. Perguntado sobre como se sentiu quando conquistou o primeiro cliente, respondeu de pronto: "Quando fiz o primeiro contrato não comemorei, já comecei a pensar no segundo".
Como ponto fraco, Juan considera ser sua postura ética perante os concorrentes, que não respeitam praticamente nada e estão sempre prontos para prejudicar seus negócios, custe o que custar. Para Juan, muitas vezes a ética atrapalha o crescimento, mas ainda assim ele prefere optar pela ética.
Sócios
Os sócios, além de familiares, possuem ótima relação de confiança e cooperação. Os sócios se complementam e se dão bem. "Somos um time. Um chuta com a esquerda, outro com a direita e o outro cabeceia para o gol! Discussões e divergências existem, mas sempre são superadas", complementa Juan.
Riscos e recursos
Quando veio o convite para deixar a atividade de atacadista e arriscar-se em um novo negócio, Juan não titubeou e aceitou a proposta. Dali por diante iniciou nova jornada empreendedora, desbravando um mercado desconhecido por completo: "Vim porque me parecia um desafio, com 40 anos mudar completamente de ramo e de atividade. Me sentia um garoto". Apesar de mostrar-se disposto a arriscar, Juan afirma que não gosta de arriscar, mas isso é algo que não se controla: "Não gosto de riscos, mas tem que assumir, senão não vendo. O risco não está a nosso alcance. É incontrolável".
No início do negócio não possuía recursos suficientes e precisou recorrer a empréstimos e cartas de crédito de bancos. Juan mostrou sua indignação com o sistema de crédito brasileiro, apontando que não há, de fato, linhas de crédito voltadas para o pequeno empresário no país, nem mesmo com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). "Tudo é muito burocrático e as taxas de juros ainda são altas".
Lado positivo e lado negativo de ser empreendedor
O lado positivo está relacionado às conquistas e superações por que passou ao longo de sua vida, empreendedor de verdade é aquele que saiu do nada e empreende alguma coisa, inicia um negócio. O lado negativo é o fato de já começar o negócio com dívida, o que é muito comum, segundo Juan. "É duro começar sem dinheiro, reforçando a questão das dificuldades enfrentadas pelos empresários iniciantes no Brasil em relação ao sistema financeiro do país".
Com relação ao futuro, Juan está otimista: "A Espanha é a nova locomotiva do mercado de vinhos de qualidade". Sua expectativa é de que os vinhos espanhóis passem a ganhar espaço no mercado nacional e está confiante também que seus contratos de exclusividade reservam para sua carteira os melhores produtos da Espanha.
Conselhos que daria a um empreendedor iniciante
"Não peça empréstimos".
"Não tenha medo de nada. Para cada dificuldade, existe uma solução."
"Vá quebrar a cara."
"Se puder, faça uma pesquisa de mercado, conheça o mercado."
"Trabalhe muito."
* Entrevista realizada por Caio C. P. Ferraz Júnior
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