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quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Construção nacional esbarra no caos externo

SÃO PAULO - O pânico da crise internacional começa a chegar ao Brasil pelo setor de construção civil, que agora pisa com os dois pés no freio, depois de um período fértil com recordes de lançamentos e de vendas. Prova da preocupação com a falta de crédito e o endividamento das empresas é que a Inpar reconhece ter reduzido a meta de lançamentos para 2008. A previsão era de R$ 2,5 bilhões no começo do ano, mas caiu agora para R$ 1,65 bilhão sob a justificativa de evitar endividamento.
A empresa está com o Credit Suisse fazendo a análise dos seus negócios, e fontes do setor dizem que ela será vendida. Procurada, a Inpar não quis se pronunciar sobre este assunto. Afirmou, porém, que, para 2009, reviu para baixo a previsão de lançamentos, de R$ 3 bilhões para R$ 1,85 bilhão. Além disso, outra movimentação que chocou o mercado foi a notícia das construtoras Cyrela e Agra, que informaram o cancelamento do acordo pelo qual visavam à integração de suas operações, anunciado em 23 de junho deste ano.
O ajuste faz parte de um novo cenário que se desenha no mercado de construção no Brasil, para João Crestana, presidente do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP). Segundo ele, das 28 empresas que abriram o capital (fizeram IPO, na sigla em inglês), 23 ou 24 deverão ficar no mercado, e uma ou duas deverão ter resultados extraordinários. Outras duas ou três, porém, serão incorporadas. "Todo setor que entra no mercado de ações passa por crises. É um movimento de depuração, para os próximos 10 anos deve acontecer. Algumas vão sumir, outras, crescer muito e o mercado vai se arrumar", afirmou Crestana.
Para o presidente do Secovi-SP, devido à crise o processo de fusões no setor irá ser acelerado. As empresas fortes ficam no mercado e as que não estão, se não vierem a falir, serão incorporadas. Um exemplo é o braço imobiliário do grupo Brascan, que fechou a compra da construtora paulista Company, este ano "A primeira era exemplo de pontualidade nas entregas. A segunda estava capitalizada. Se uniram e fortaleceram-se", disse Crestana.
De acordo com o presidente do Secovi-SP, para uma empresa imobiliária dar lucro, tem-se que pensar a longo prazo, pois entre a escolha do lugar e a entrega das chaves há um intervalo de 3 a 5 anos. "Os analistas não entendem esta realidade", brinca.
Na análise de Ana Maria Castelo, consultora da Fundação Getulio Vargas (FGV) Projetos, o problema no mercado de construção deve-se à ausência momentânea de crédito, mais caro agora devido à crise na América do Norte. "Isso é gerado pelo medo do mercado frente à crise americana. Todos estão se recolhendo, pela incerteza do cenário", lembra ela.
Na opinião da especialista, as obras em andamento já contam com recursos e os compromissos devem ser mantidos. "As obras em andamento já contam com recursos, pois quando as fundações se ergueram as incorporadoras já venderam boa parte dos espaços e quando se entrega uma obra se tem o retorno dos bancos e um acréscimo no caixa. O que acontece é que as empresas estão aguardando o crédito baixar, para voltar a se capitalizar", declarou.
A consultora da FGV explica que este é um movimento de precaução. Vale salientar que o setor é um mercado de longo prazo e precisa de crédito para sobreviver e o momento conjuntural é de escassez de crédito. O cenário de incerteza deve afetar as empresas no longo prazo. Ela compartilha a idéia de que a haja maior possibilidade de fusões ou até algumas empresas deixem de existir.
"O fato de as ações despencarem no pregão de hoje não quer dizer que amanhã não possam subir. Ainda não é possível saber qual será o movimento. As empresas que tiverem mais dificuldade vão se fundir, ou encolher", crê Ana.
A consultora da FGV crê que a médio e longo prazo, o cenário do Brasil continua favorável ao setor. "A economia está se saindo bem. Uma desaceleração já era desejável por causa da taxa Selic e do inchaço de demanda em alguns setores. Devido aos americanos, a desaceleração pode ser maior. É uma questão de conjuntura e tão logo cesse a crise, em 2010 deve haver um rearranjo econômico e a volta de um crescimento, mais lento. Mesmo assim é melhor que o passado recente. O problema de hoje está no curto prazo", estima ela.
Corretagem
Em 2010, devemos ter meia dúzia de empresas de capital aberto nesse mercado. A frase bombástica vem de José Augusto Viana Neto, presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (Creci-SP), em entrevista exclusiva ao DCI. O especialista é mais um que engrossa o discurso de que o mercado deverá se readequar, havendo fusões e aquisições.
"Um exemplo foi a Construtora Tenda, vendida por 20% do que valia. Mas não tenho a visão negativa do mercado como estão se colocando. Os cancelamentos dos lançamentos são reorientações de mercado. Muitas vezes, chega a ser falta de planejamento das empresas que prospectaram mercados e viram que não fizeram os melhores negócios", explica Viana Neto.
O presidente do Creci-SP acredita que "o mutuário brasileiro consegue o dobro do dinheiro em qualquer lugar do mundo, por ser bom pagador". Para ele, o público vai continuar a buscar imóveis. "O Brasil não tem supervalorização, é um mercado sólido. O juro é predeterminado pelos bancos e estes não desrespeitam o mutuário. Estive reunido esta semana com os bancos para montarmos uma estratégia de busca de captação junto aos investidores."
Para João Crestana, presidente do Secovi-SP, que está há 30 anos no mercado, a crise internacional assusta e é incerta. "Não dá para ver o tamanho do estrago e não sabemos como o mundo e o Brasil deverão ser afetados. Mas por pelo menos 2 ou 3 anos o mercado imobiliário está seguro, pois a venda vive de Poupança e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)", afirmou.
A economia real começa a sentir os primeiros efeitos da crise financeira internacional: o setor de construção civil está pisando com os dois pés no freio. O pânico da crise internacional influenciou a Inpar, que acaba de reduzir a meta de lançamentos deste ano e de 2009 a quase metade, sob a justificativa de evitar endividamento. Para 2009, a Inpar reduziu lançamentos de R$ 3 bilhões, para R$ 1,85 bilhão. Outra movimentação que chocou o mercado foi das construtoras Cyrela e Agra, que cancelaram acordo, anunciado em junho, pelo qual integrariam suas operações.
No comércio varejista, o cenário é de alarde. As redes médias começam a adiar planos de abertura de capital e a rever investimentos. O Sonda Supermercados, que prevê faturar mais de R$ 1 bilhão este ano, freou a ida à Bolsa de Valores, programada para 2009, "por tempo indeterminado", diz Roberto Moreno, diretor.
Outra que mudou os planos é a rede mineira Bretas Supermercados, que teria R$ 120 milhões para expansão em 2009, mas "40% do valor viria de financiamento, portanto isso dependerá da disponibilidade de crédito no mercado", afirmou o presidente da rede, Estevam Duarte de Assis.
Na área de veículos, a crise financeira internacional poderá ter reflexos nas exportações, avaliou o presidente da Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, que mantém as previsões de aumento de 24,2% nas vendas internas. O otimismo do presidente Anfavea foi contrastado pelo do vice-presidente da Associação de Fábricas Argentinas de Componentes (AFAC), Fabio Rozemblum, que não se mostrou tão confiante. Paulo Butori, presidente do Sindipeças, disse que a crise começa a chegar ao setor de produção de autopeças. Já para um setor como o farmacêutico, que importa mais de 80% dos insumos que utiliza, a alta do dólar é um motivo de "grande apreensão", disse o diretor presidente da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), Carlos Alexandre Geyer.
Em meio à crise, a Sadia informou o mercado de que trouxe de volta Luiz Fernando Furlan, que passa a ocupar a presidência do Conselho de Administração.
Fonte: DCI

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