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sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Executivos na vitrine


Durante uma recente teleconferência com analistas, o presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, deixou de lado por alguns instantes os números sobre o resultado da companhia no trimestre para fazer um comentário, no mínimo, incomum. "Muitos dos bons executivos que temos aqui estão se tornando presidentes em diferentes companhias", afirmou Agnelli aos ouvintes. Ele se referia a profissionais como o ex-gerente de projetos de não-ferrosos da Vale Luciano Ramos, que assumiu a presidência da recém-aberta operação da mineradora inglesa London Mining no Brasil, em maio. Ou como Nelson Silva, que deixou a Vale no final de 2006 para assumir o comando da divisão de alumínio da BHP Billiton, em Londres. Durante o primeiro semestre deste ano, 20 diretores e gerentes -- dos quase 1 000 que comandam as operações da Vale -- saíram da mineradora. Desse contingente, oito faziam parte de um grupo de executivos mapeados na linha de sucessão hierárquica da Vale. Eles agora estão no alto escalão de empresas como as siderúrgicas Arcelor Mittal e CSN. "Antes as nossas pessoas, em geral, saíam para ocupar cargos equivalentes em outras empresas", diz Marco Dalpozzo, diretor de recursos humanos da Vale. "Agora é mais comum que elas saiam daqui para dar um salto na carreira."
Os executivos da Vale entraram no radar de outras empresas, em primeiro lugar, pela crescente projeção internacional que a companhia ganhou nos últimos anos -- um processo semelhante ao da fabricante de aviões Embraer, que também virou alvo de concorrentes, como a americana Gulfstream. A aquisição da Inco, por 13 bilhões de dólares, em outubro de 2006, e recentes projetos em países como Moçambique e Peru estenderam a presença da companhia a 40 países. A receita bruta da Vale cresceu mais de 400% entre 2000 e 2006, quando o faturamento chegou a 46 bilhões de reais. A Vale tornou-se a segunda maior mineradora do mundo -- atrás apenas da BHP Billiton. Essa pujança acabou colocando seus profissionais numa espécie de vitrine global. Some-se a isso o fato de que o aquecimento da demanda de minério em todo o mundo aumentou a disputa por executivos que conheçam esse setor e fica fácil entender o porquê de tanto assédio na mineradora brasileira. "Nos últimos cinco anos, o mercado de minério de ferro cresceu 25%", afirma Jorge Beristain, analista do Deutsche Bank. "E esse é um setor que sofre com escassez de gente." No Grupo Foco, que representa no Brasil a consultoria de headhunting americana Staton Chase, a inclusão de executivos da Vale em processos de seleção ganhou força nos últimos meses. Entre junho e agosto, sete diretores e gerentes da empresa foram sondados -- todos para vagas em fabricantes de máquinas para mineração, que pegam carona no crescimento do setor.
Os recrutadores e os concorrentes estão atrás de gente como a mineira Vanessa Torres, que acaba de embarcar para Perth, no interior da Austrália. Aos 37 anos, 15 deles dentro da Vale, Vanessa acaba de assumir a vice-presidência de desenvolvimento de negócios na área de níquel da australiana BHP, maior rival da Vale. Ela, que começou sua jornada na Vale como trainee, ganhou exposição internacional ao participar recentemente das avaliações de compra de empresas como as mineradoras canadenses Canico, em 2005, e Inco, em 2006. Expatriada para o Canadá no ano passado, Vanessa havia se tornado diretora de projetos industriais da CVRD Inco. A experiência garantiu-lhe bons contatos e a oferta para subir mais um degrau na carreira -- algo que ela só esperava conseguir na Vale nos próximos dois ou três anos. "O desafio era irrecusável", diz.

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