Quando a concorrência faz bem
Gazeta Mercantil
21 de Setembro de 2007 - Crescimento da Starbucks favorece outras redes que ganham visibilidade e mais clientes. Elas não têm medo da Starbucks. Aliás, torcem para que a gigante mundial das cafeterias continue crescendo e quem sabe, inaugure uma loja bem pertinho da sua. São as pequenas e médias redes de cafeterias, que aproveitam a fama da concorrente estrangeira para capitalizar e aumentar os negócios.
A rede norte-americana de cafeterias Starbucks vai atender a uma solicitação de clientes e entrar no que a diretora-geral da marca no Brasil, Maria Luisa Rodenbeck, chama de coração da capital de São Paulo: a avenida Paulista. Em outubro, a empresa abre duas novas unidades (a sexta e a sétima na cidade): uma no Shopping Center 3 e outra na Alameda Santos, a segunda unidade de rua da marca no Brasil e a maior loja Starbuck na cidade.
No número 1.054 da Alameda Santos, a cafeteria de 400 m² terá espaço para fumantes, na área externa, como ocorre na loja da rua Amauri e na do Shopping Páteo Higienópolis.
A entrada da rede, líder mundial em cafés premium - com mais de 11 mil pontos nos Estados Unidos, Europa, Ásia, Oriente Médio e América Latina - na região não assusta as empresas do segmento com lojas instaladas na avenida Paulista e entorno. A concorrência enxerga o valor que a nova loja vai agregar ao segmento.
"A marca Starbucks atrai público e eu não me incomodaria se eles abrissem uma loja bem ao lado da minha", diz Marco Kerkneester, proprietário da paulistana Santo Grão, que tem duas unidades no bairro Jardim Paulistano. Segundo ele, desde que a rede entrou no Brasil, o negócio de café ganhou outra dimensão. "Ganhamos visibilidade." Em sua opinião, o pequeno nicho de mercado já é hoje um segmento.
Quanto à qualidade do produto concorrente, Kerkneester garante que é bom, inclusive as redes utilizam o mesmo leite. Mas isso não o preocupa. Afinal, seu modelo de negócio é exatamente o contrário. "Eles são ‘fast’ em tudo", afirma. Já o Santo Grão privilegia o "fast" em nada. "Acredito que o café é um momento para parar e refletir. Esse hábito de tomar café em pé é coisa de americano", diz o empresário, que nasceu na Nova Zelândia, e já pensa em expandir. "Até o final do ano vamos abrir outra unidade em São Paulo."
Suplicy Cafés Especiais
Para abrir a rede Suplicy Cafés Especiais, há quatro anos, o empresário Marco Suplicy, teve como referência justamente a Starbucks. "Nosso blender, xarope flavorizante e filtro de água são os mesmos utilizados por eles", diz o empresário. Por falta de boas opções de copos de papel, no País, a rede utiliza copos de isopor, mas Suplicy já imagina que a solução poderá vir por força da concorrência.
"Estamos sabendo que eles estão procurando fornecedores de copos de papel e na hora que tiver um fabricante brasileiro que atenda às especificações que precisamos, também vamos usar. É um benefício que traz para o mercado: toda uma rede de fornecedores, que o público não vê".
A rede possui hoje cinco lojas e vai inaugurar até o final do ano mais uma também na região da avenida Paulista. Com um cardápio com 20 cafés diferentes, 20 frapês de frutas frescas, 12 chás e oito sucos, a rede Suplicy prevê faturar R$ 4 milhões este ano, 30% acima do ano passado.
Com inauguração programada para a primeira quinzena do mês, a cafetaria do Center 3 vai ter 180 m² de área total, 71 lugares para sentar (33 na loja e outros 38 no mall do Shopping). O fácil acesso à loja - o shopping também tem entradas pelas ruas Augusta e Luís Coelho - foi um das razões que motivaram a abertura de uma unidade Starbucks no shopping.
Ofner
"Empresas fortes reunidas em um mesmo local atraem mais pessoas, mais público. Estar sozinho, não necessariamente é bom", diz o diretor comercial da confeitaria Ofner, Laury Roman, que prevê uma troca de clientes entre as empresas.
A rede paulista Ofner, com 52 anos de mercado, possui atualmente 18 lojas (além de uma construção), uma delas no Center 3, onde está há 38 anos. O café é uma das nove famílias de produtos da confeitaria e se tornou, na opinião do empresário, indispensável para o tipo de serviço e produto oferecidos. "Tem peso, tem importância, mas é um produto de baixo valor agregado", diz. Os doces respondem pela maior fatia do faturamento da rede.
A nova loja da Starbucks segue o design, classificado como sóbrio e aconchegante, segue o modelo unidade instalada dentro da Saraiva Megastore, no Morumbi Shopping. Além de música ao vivo e do serviço Wi-Fi de acesso à internet, presentes nas outras cinco lojas Starbucks hoje, em funcionamento na cidade de São Paulo, para a do Shopping Center 3 foi desenvolvida uma mesa de seis lugares que poderá ser utilizada para leitura ou reuniões.
Fran’s Café
Até mesmo o Fran’s Café, a maior rede de cafeterias do País, acha que pode sair ganhando com a expansão da rede americana. "A concorrência é saudável e eles ainda estão criando novos formadores de opinião para o Fran’s Café", afirma a gerente de franchising da rede, Vanessa Queiroz.
Isso porque a rede brasileira, nascida em Bauru, tem como público alvo pessoas entre 30 e 49 anos. "No caso do Starbucks o público é bem mais jovem, 17 a 20", explica.
Além do mais, a empresa teve bons resultados na unidades do Shopping Morumbi que sofreram a concorrência com a entrada da Starbucks. "Essas lojas tiveram até aumento de vendas de cafés", afirma o empresário Queiroz. Mesmo assim, preocupada em renovar a marca, a rede contratou a agência Gas Multiagência, especializada em moda e comportamento. Além de ter renovado seu cardápio e investido em reformulação dos layouts das lojas.
E enquanto a Starbucks começa sua expansão pelo Sudeste, o Fran’s Café está negociando sua entrada no Norte e Nordeste. Até o final do ano, a empresa quer chegar a 120 lojas. "Estamos com uma expansão muito grande nunca houve tanta demanda por franquia."
Os próximos destinos da empresa são as cidades de Manaus, Belém, , São Luiz e Campo Grande. Também vão abrir a segunda unidade em Goiânia e Salvador. A rede também está sendo procurada por investidores dos Estados Unidos, Europa e Emirados Árabes. "Com certeza iremos para fora do Brasil, mas não agora".
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