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terça-feira, 25 de setembro de 2007

É dificil agradar a todos


O termo globalização, com o significado que as pessoas conhecem hoje, foi cunhado em 1983 por Theodore Levitt, professor da Harvard Business School, morto no ano passado. Num artigo intitulado Globalização dos Mercados, Levitt, reconhecido por seus profundos conhecimentos em marketing, traçou um cenário cor-de-rosa para as grandes corporações (especialmente, americanas e européias). Com um mundo mais integrado, essas empresas conquistariam novos mercados e se beneficiariam de excepcionais ganhos de escala. No atacado, sua teoria estava correta -- só não está sendo tão fácil quanto ele imaginava. Entre alguns outros percalços -- como protecionismo e concorrência de negócios locais --, uma questão tem desafiado a estratégia expansionista das grandes empresas: até que ponto é possível adotar o marketing globalizado, também baseado em escala. Escolher um nome de produto que faça sentido no mundo inteiro e produzir campanhas que sejam corretamente compreendidas tornou-se obsessão, nem sempre bem-sucedida, das grandes corporações.
Um episódio recente envolvendo a montadora alemã Volkswagen dá uma boa amostra da dimensão desse problema. Por causa de um mal-entendido semântico, a empresa teve de cancelar uma campanha publicitária no mercado americano. A propaganda, que anunciava o novo modelo do Golf, referia-se ao carro como Turbo-Cojones. Ao usar o termo cojones, de origem espanhola, a intenção era cativar a comunidade hispânica dos Estados Unidos, um dos mercados mais cobiçados pelas empresas atualmente. Entre o público americano, nenhum problema. Cojones é entendido como "valente". Mas em espanhol a palavra é empregada para designar uma parte da anatomia masculina, os testículos. Alertada, a Volkswagen interrompeu a campanha, mas o estrago já estava feito. A gafe virou tema de reportagens no mundo inteiro e revelou outra armadilha da globalização que Levitt ignorou em seu famoso artigo -- erro local, dano global.
A SITUAÇÃO ENFRENTADA pela Volkswagen não é uma exceção, um caso isolado. Em maior ou menor grau, multinacionais de todo o mundo vêm encarando dificuldades para criar -- ou divulgar -- suas marcas (veja quadro). Para evitar os tais "danos globais", as multinacionais vêm formando enormes estruturas de controle. A Unilever, presente em 150 países, organizou um sistema dividido em três instâncias -- global, regional e local --, pelas quais todas as sugestões de peças publicitárias e nomes de produtos devem passar. Ao todo, centenas de pessoas participam desse processo, que, em alguns casos, pode durar até dois anos. "Não é um processo simples e rápido, mas é eficaz", diz Andrea Rolim, diretora de marketing da marca Seda, da Unilever, no Brasil. Na Avon, outra empresa com atuação global, todas as campanhas passam pelo crivo de profissionais de marketing e advogados nos 142 países onde a companhia atua. A triagem recebeu o sugestivo nome de disaster check (checagem antidesastre) e pode durar até três anos.
Mesmo com todos esses cuidados, os "desastres" ainda persistem. Recentemente, a Nike, uma das empresas mais globalizadas do planeta, foi surpreendida pela forte reação a uma de suas campanhas. A multinacional foi acusada até de blasfêmia pelo governo chinês por causa de uma propaganda aparentemente inofensiva. O comercial de TV, depois cancelado, mostrava o jogador de basquete americano LeBron James brigando com lutadores de kung fu e um par de dragões (e vencendo todos eles). Para os chineses, o filme soou como chacota de um estrangeiro frente a símbolos nacionais. "Num país ocidental, um famoso derrotando aquilo que é antigo seria popular entre os jovens. Mas a Nike não estava preparada para o peso das tradições na China", diz Elliot Polak, presidente da consultoria TextAppeal, em Londres.

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