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quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Fabricantes de arroz e feijão tentam alavancar vendas com marketing

No início dos anos 90, Paulo Storti, diretor da Broto Legal Alimentos, recebeu uma dieta sui generis do seu endocrinologista: comer arroz e feijão todos os dias, no almoço e no jantar. "Emagreci sete quilos e, desde 1995, nunca mais engordei", diz Storti, garantindo que conserva o mesmo cardápio até hoje. Doze anos depois, o dono da Broto Legal, uma beneficiadora de arroz e feijão com sede em Campinas (SP), ressente-se do fato de a maioria dos consumidores pensar de maneira diferente.
Não só a dobradinha arroz e feijão costuma passar longe do menu das dietas, como até mesmo quem não está de regime tem preferido comer outra coisa. Enquanto o consumo de alimentos cresceu 50% entre 1995 e 2006, período em que a população brasileira aumentou 16%, o consumo de arroz e feijão patina, respectivamente, em 17 e 42 quilos per capita, segundo a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA).
Para enfrentar esse cenário, empresas como a Broto Legal, Kicaldo, Pirahy e até a maior rede varejista do país, o Carrefour, estão desenvolvendo campanhas para incrementar as vendas. As ações englobam desde concurso de receitas a sorteio de carros zero quilômetro, passando por uma raspadinha encartada no pacote de arroz, que dá a chance de concorrer a brindes. A Josapar, dona da marca Tio João, e a Mars, que fabrica o Uncle Ben's, apostam em produtos semiprontos, como feijão em caixinha e arroz com sabores, que podem ser preparados no microondas. Esta investida em produtos mais sofisticados já ficou de fora dos planos da Camil, que no ano passado encerrou a sua linha "Quase Pronto".
"Os risotos semiprontos não têm o mesmo sabor ou aparência das receitas tradicionais e nem são tão instantâneos assim, pois demoram até 20 minutos, o tempo aproximado de cozimento do arroz na panela", diz Jacques Quartiero, diretor de marketing da Camil. "No lançamento da linha, em 1998, nós até vendemos bem, mas depois a demanda recuou muito", diz o executivo. Para a Camil, diz ele, a saída é crescer sobre a concorrência, inclusive, adquirindo empresas de menor porte. "O mercado de arroz e feijão é muito pulverizado no Brasil e nós só não perdemos vendas em 2006 porque tiramos espaço da concorrência".
Toda a indústria reconhece que a mais popular mistura culinária nacional já viveu dias melhores. Segundo o departamento de economia e estatística da ABIA, se fosse considerado o aumento do poder aquisitivo que fez crescer o consumo total de alimentos nos últimos anos, era para o consumo de arroz por habitante estar em 50 quilos e, o de feijão, em 25. As razões para que isso não aconteça têm muito pouco a ver com preço. Pelo contrário: quanto maior o seu poder de compra, mais as pessoas diversificam o cardápio. Por isso, mesmo investindo em promoções e campanhas, as empresas não estão muito animadas.
"As pessoas comem cada vez mais fora de casa, ninguém janta mais. As moças estão no mercado de trabalho e nas escolas, sem tempo para cozinhar, e as redes de fast food proliferam", enumera Mauro Bertolanza, diretor da Kicaldo, com sede em Barueri (SP). Além disso, diz ele, o setor não tem verba suficiente para fazer campanha publicitária o tempo inteiro.
Há seis meses, a Kicaldo lançou uma promoção na Grande São Paulo, que tem um dos menores índices de consumo de feijão, para anunciar o seu feijão pronto, no saquinho. Contratou senhoras para promover a degustação em 500 pontos de venda mas, segundo Bertolanza, a venda do feijão pronto ainda é insignificante.
A Prato Fino, marca da Pirahy Alimentos, acaba de lançar uma "raspadinha" no seu pacote de arroz de cinco quilos, que dá aos consumidores a chance de concorrer a mais de 110 mil prêmios. Os brindes vão de prosaicos boné e camiseta a aparelhos de MP3, home theater e fogões, passando por bicicletas e skates. A Pirahy também visita cerca de 50 escolas por ano, promovendo a "Roda Premiada", um jogo em que as crianças concorrem a brindes. Segundo o gerente nacional de marketing da empresa, Mauro Kihs, é preciso cativar os jovens consumidores para que eles não deixem de comer arroz. "Eles também são importantes porque influenciam as mães na escolha da marca", afirma Kihs.
O Tio João, da Josapar, por sua vez, acaba de colocar nas gôndolas o feijão pronto na caixinha, o arroz com ervas finas, à grega, curry, brócolis e uma linha de risotos, todos semiprontos, que podem ser cozidos no microondas. "Acreditamos na tendência de praticidade para ganhar mercado", diz Rodrigo Gross, gerente da Josapar.
Storti, da Broto Legal, não concorda. "Não acredito nos semiprontos de arroz e feijão", diz o empresário, que tem no seu portfólio feijão congelado. "Estes produtos são muito caros para os estudantes, que poderiam ser o principal público", afirma.
A Mars, dona da Uncle Bens, afirma não sofrer queda nas vendas de arroz porque já foca seu portfólio em um público de maior poder aquisitivo, diz o diretor de marketing, John Ament. "Nossa linha de maior valor agregado, que inclui os semiprontos, já responde por 40% da receita, sendo que no ano passado significava 30%".
No dia 10 de outubro, o Carrefour lança a "Semana do Arroz e Feijão" para promover, em todo o país, a venda casada dos dois produtos. Vai distribuir nas lojas livros de receitas da Embrapa que, por sua vez, também relança a campanha "Feijão e Arroz: o par perfeito do Brasil". "É uma mistura econômica e muito nutritiva, que as pessoas estão deixando de lado", diz Beatriz Pinheiro, chefe da unidade de Arroz e Feijão da Embrapa.

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