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segunda-feira, 30 de abril de 2007

O Grande Empreendedor Octavio Frias de Oliveira morre aos 94 em SP.




Sepultamento do publisher do Grupo Folha, Octavio Frias, em São Paulo
VEJA ÁLBUM DE FOTOSO empresário Octavio Frias de Oliveira, publisher do Grupo Folha, morreu na tarde deste domingo, 29/4, aos 94 anos em São Paulo. Protagonista da modernização da mídia brasileira na segunda metade do século 20, Frias pertenceu a uma geração de empreendedores pioneiros dos quais ele era um dos últimos remanescentes e o único a se manter em atividade profissional até o ano passado. Em novembro, como decorrência de uma queda doméstica, o empresário foi submetido a cirurgia para remoção de hematoma craniano. Teve alta hospitalar na passagem do ano e desde então vinha se recuperando na casa de sua filha Maria Cristina. Suas condições clínicas pioraram nas últimas semanas, levando à instalação de um quadro de insuficiência renal grave. Ele estava inconsciente havia dois dias. Seu coração deixou de bater às 15h25. Depois de atuar no serviço público e nos ramos financeiro e imobiliário, em 1962 Frias adquiriu a Folha de S. Paulo em sociedade com Carlos Caldeira Filho. Em algumas décadas saneou a empresa e a reorganizou em termos industriais, levando a Folha a se tornar o maior e um dos mais influentes jornais do país. Fez da Folha, também, a base do que é hoje um conglomerado que abrange o maior portal de Internet do país, o UOL, o jornal "Agora", o Instituto Datafolha, a editora Publifolha, a gráfica Plural e o diário econômico "Valor", este em parceria com as Organizações Globo. Personalidade inquieta e dinâmica, Frias continuava a receber visitantes, supervisionar as empresas e emendar pessoalmente os editoriais da Folha até ser hospitalizado em 2006. Sua atuação na imprensa foi marcada pela independência em relação a governos e grupos econômicos, assim como pela pluralidade das visões que abrigou em seus veículos de informação. Inteligência objetiva, gosto pela inovação e informalidade no trato são aspectos pessoais destacados pelos que conviveram com ele. Octavio Frias de Oliveira deixa a viúva, d. Dagmar Frias de Oliveira, e os filhos Maria Helena, Otavio, Maria Cristina e Luís.

"Todos nós ganhamos quando aprendemos as lições que foram deixadas por ele", disse o presidente Lula sobre Frias
LULA
FHC
SERRA
GABEIRA
OUTROS DEPOIMENTOSO corpo do empresário foi velado na manhã desta segunda, no cemitério Gethsêmani (Morumbi, zona oeste de São Paulo), onde foi enterrado. Entre as autoridades e personalidades que comparecem ao velório estão o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador de São Paulo, José Serra, o prefeito Gilberto Kassab, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, além de ministros de Estado, deputados estaduais e federais, representantes do Judiciário, empresários de todos os setores da economia, líderes da área de educação, saúde e cultura, assim como dirigentes dos principais órgãos de comunicação do país. Serra disse que Octavio Frias "foi um conselheiro nos momentos difíceis e complicados e de decisões importantes". No próprio domingo, o presidente Lula divulgou nota em que lamenta a morte do empresário e publisher da Folha. Para Lula, "o Brasil perde um dos seus mais lúcidos e destacados homens de imprensa."JornalismoA relação direta e cotidiana de Octavio Frias de Oliveira com o jornalismo atravessou mais de quatro décadas, mas o publisher da Folha preferia a designação de empresário à de jornalista. Quando comprou o jornal em 1962, em sociedade com Carlos Caldeira Filho, já percorrera uma longa trajetória pessoal, cheia de altos e baixos. Sob seu comando, a empresa estabilizou-se economicamente, tornou-se uma das peças mais importantes na circulação de opiniões no final do regime militar, quando o país se redemocratizava, e expandiu-se.Frias, como ficou conhecido, nasceu em 5 de agosto de 1912, na casa de uma avó, no Rio de Janeiro. Era o oitavo filho de Luiz Torres de Oliveira, juiz de direito em Queluz (SP), e Elvira Frias de Oliveira. Quando tinha sete anos, a mãe morreu, após uma série de cirurgias que buscavam identificar as causas de dores que sentia. Nesse momento, Luiz já trocara o posto de juiz pelo de administrador do bairro Maria Zélia, em São Paulo, construído pelo empresário Jorge Street, cujo nome homenageava a mulher, Maria Zélia Frias Street, tia de Elvira. O bairro ficava no entorno da Companhia Nacional de Tecidos de Juta, de propriedade de Street e Guilherme Guinle. Os negócios do tio não iam bem, e o pai de Octavio acabou perdendo o emprego depois de a fábrica ser vendida para o conde Francisco Matarazzo. Inicialmente, Luiz Torres tentou tocar uma fazenda que comprara em Itupeva, sem muito sucesso. Em 1931, ele retornaria à vida de magistrado, como juiz em Sorocaba. Em 1926, Octavio começou a trabalhar como office-boy na Companhia de Gás. Ficou na empresa até o início dos anos 1930. Extremamente hábil no uso de máquinas de calcular, foi trabalhar na Recebedoria de Rendas, órgão da Secretaria da Fazenda. Frias fez carreira no setor público até 1946, quando, em sociedade com Octavio Orozimbo Roxo Loureiro, fundou o BNI (inicialmente, Banco Nacional Imobiliário e, depois, Banco Nacional Interamericano), projeto que se concretizou em 1948. O BNI notabiliza-se, então, por comandar empreendimentos imobiliários -o mais marcante deles, cujo projeto é assinado por Oscar Niemeyer, tornou-se um dos cartões-postais de São Paulo, o edifício Copan- e por lançar o "canguru-mirim", uma campanha que estimulava crianças a pouparem. Em 1955, andando a cavalo, Octavio Frias lesionou a coluna. Ficou engessado por seis meses, mas, ainda assim, podia dirigir. Numa viagem pela rodovia Presidente Dutra, bateu num caminhão parado, sem sinalização, na pista. No carro, estavam Zuleika Lara de Oliveira, sua primeira mulher, com quem se casou em 1947, seu irmão José, uma empregada e um sobrinho. Zuleika e José morreram no acidente. Afastado na prática do BNI, que vivia uma crise -havia ido "por água abaixo", segundo o próprio Octavio, como destaca seu biógrafo, o jornalista Engel Paschoal, autor de "A Trajetória de Octavio Frias de Oliveira" -, Frias teve de responder pelos problemas que o banco enfrentou e teve seus bens bloqueados. "Não tive responsabilidade sobre o que aconteceu, mas fui atingido diretamente", afirmou, certa vez. O banco sofreu intervenção e acabou comprado pelo Bradesco. Frias contava que, então, ficou "sem mulher, sem nada, partindo da estaca zero". Foi, então, trabalhar na Transaco, uma empresa que fundara anos antes para negociar ações e que ficara sob o comando de um sobrinho. Com Octavio Frias, a Transaco, que também vendia assinaturas da Folha, prosperou. Frias fez pularem de 150 para 6.000 novas assinaturas permanentes por mês - assinaturas que, já com a empresa sob seu comando, seriam um dos principais problemas que enfrentaria para viabilizar economicamente o jornal. Frias chegou, neste momento, a receber um convite de Gastão Vidigal, dono do Banco Mercantil de São Paulo, para assumir uma diretoria. Achava que Frias precisava de "status". Segundo o relato do convidado, a conversa teria sido assim: "Você já ganhou dinheiro, agora você precisa de status. Você está com essa mancha do BNI aí que precisa tirar. Precisa de status. Vem trabalhar comigo que eu te dou o lugar de diretor'. Eu disse: 'Não, muito obrigado, Gastão'. Ele ficou puto da vida." Na Transaco, Frias conheceu Dagmar de Arruda Camargo, já mãe de Maria Helena, hoje médica. Meses depois, foram morar juntos (eles formalizariam o casamento em 1965, quando ela ficou viúva) e tiveram os filhos Otavio, diretor de Redação da Folha desde 1984 e freqüentador da redação desde o começo dos anos 70, Maria Cristina, jornalista especializada em economia, e Luís Frias, que se tornou o principal executivo do Grupo Folha em 1990. Antes de comprar a Folha, Frias associou-se a Carlos Caldeira Filho no estabelecimento de uma estação rodoviária na região da Luz. A rodoviária funcionou ali até 1982, quando foi construído o Terminal do Tietê. Mas o negócio definitivo com Caldeira foi selado em 13 de agosto de 1962, quando os dois deram o primeiro cheque ao antigo proprietário da Folha, José Nabantino Ramos, e compraram o jornal. Frias e Caldeira renegociaram dívidas e adotaram uma série de medidas para estabilizar a empresa. Compraram jornais como o Última Hora e o Notícias Populares, para baratear a distribuição e ocupar nichos em que a Folha não atuava. Investiram em novos equipamentos - em 1º de janeiro de 1968, o jornal começaria a ser rodado em offset. Na década de 1970, Frias comandou o processo que levou a Folha a assumir um papel de destaque na abertura política. Com a direção de Redação nas mãos do jornalista Claudio Abramo, a partir de 1975 o jornal começa a se destacar pela pluralidade de vozes e por um posicionamento político que incomodou os militares. Criou em 1976 uma seção de artigos na página 3 que abriu espaço para opiniões divergentes, abrigando também textos de intelectuais e políticos que faziam oposição ao regime. Em agosto de 1977, um relatório do Serviço Nacional de Informações dizia que a Folha tinha "o esquema de infiltração mais bem montado da chamada grande imprensa", para "isolar o governo da opinião pública". Em 1º de setembro, o jornalista Lourenço Diaféria publicou o texto "Herói. Morto. Nós", em que, a partir da história de um bombeiro que salvara uma criança em um poço de ariranhas no zoológico de Brasília, fazia uma comparação com Duque de Caixas. E escreveu: "O povo está cansado de estátuas e cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal". O Exército não gostou nada do texto. Diaféria foi preso em 15 de setembro. No dia seguinte, a Folha publicou o espaço da coluna do jornalista em branco. Frias, então, recebeu um telefonema de Hugo Abreu, chefe da Casa Militar, dizendo que, se a coluna voltasse a ser publicada em branco, a Folha seria fechada. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em depoimento publicado no livro "A Trajetória de Octavio Frias de Oliveira", avalia que Frias realizou, então, uma "manobra tática", recolhendo algumas velas, mas não mudando o rumo do barco. Claudio Abramo deixou a direção da Redação, sendo substituído por Boris Casoy, e Frias e Caldeira afastaram-se oficialmente da empresa. A Folha entraria abertamente na campanha das Diretas-Já em novembro de 1983. Mesmo com a emenda derrotada, o movimento marcou a década, abrindo definitivamente as portas para o fim do regime militar. Em 1986, a Folha alcançou a liderança em circulação no mercado de jornais, posição que mantém até hoje. Aos poucos, a direção da empresa foi sendo assumida pelos filhos. Otavio, desde 1984, é o diretor de Redação da Folha, em que comandou, enfrentando no início fortes resistências de setores da redação, a implementação do chamado projeto Folha, que em suma defende a realização de um jornalismo crítico, apartidário e pluralista. Em 1990, Luís, que já ocupara vários postos da administração da empresa, tornou-se o principal executivo do grupo. Em 1996, comandou a criação do UOL. Frias, que num dos momentos mais difíceis da história recente da Folha, invadida por policiais federais durante o governo de Fernando Collor de Mello, em 1990, participou das reuniões que decidiram o texto e tom do editorial que reagia à ação do governo, seguiu ativo no dia-a-dia do jornal. Até recentemente, freqüentava o 9º andar discutindo com os editorialistas o que seria publicado como opinião da Folha.

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