Shopping popular na Bahia muda mix por causa da China
Valor Econômico
Salvador tem 2,7 milhões de habitantes e sua região metropolitana tem índice de desemprego de 24,9% - são mais de 400 mil pessoas sem trabalho, segundo os dados divulgados na última quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em contrapartida, apenas um shopping center na cidade é declaradamente voltado ao público de baixa renda. O Outlet Center, montado nos galpões de uma antiga fábrica de chocolates, então abandonada, completa dez anos de vida nesta semana.
O empreendimento, localizado na Península de Itapagipe, aproveitou a vocação de seu bairro, o Uruguai, para o setor de vestuário. Com o governo do Estado e o Sebrae, ajudou a viabilizar a criação de um arranjo produtivo local (APL) na vizinhança, que já tem mais de uma centena de pequenos fabricantes de roupas. Desse universo, cerca de um terço tem lojas no centro de compras.
O Outlet Center não tem cinemas, praça de entretenimento ou escada rolante. O ar condicionado de uso coletivo funciona apenas na praça de alimentação, onde disputam a clientela dois restaurantes de comida caseira - cada loja opta por utilizar ou não condicionador de ar próprio em seu espaço. Não há lojas-âncora nem grifes - boa parte das 210 lojas atualmente em operação, a maioria de roupas femininas, tem fabricação própria.
A competição dos artigos chineses deve levar o shopping a uma adaptação em seu conjunto de lojas. O foco será mantido em vestuário, mas serviços, como clínicas médicas, e lojas de decoração e eletroeletrônicos devem ganhar espaço. Estuda-se ainda o plano de atrair versões de lojas de desconto de marcas conhecidas.
Por outro lado, o espaço se sobressai na comparação com a vizinhança, localizada em uma das regiões mais carentes da capital baiana. "Se levarmos em conta empreendimentos de grande porte, este é o único que se instalou na região nos últimos tempos, seja privado, seja público. E nós já estamos aqui há dez anos", diz o empresário Emmanuel Maluf, criador do Outlet e também vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb).
O preço médio das roupas circunda os R$ 20,00, mas é possível encontrar vestidos por R$ 5 ("é mais barato que um lanche do McDonald´s", diz Maluf) ou mesmo blusas femininas por R$ 2 ("menos que o lanche da rodoviária"). O custo menor de instalação dos lojistas ajuda a baratear os produtos: o condomínio custa R$ 60 por metro quadrado. O valor (que é fixo, independentemente do faturamento de cada loja) inclui aluguel, taxa de luz e de propaganda e IPTU. A estratégia ajuda a evitar sonegação do imposto municipal.
Os programas de complementação de renda, como o Bolsa Família, ampliaram o poder de consumo das classes mais baixas, o que tem levado varejistas de outras regiões do país a desembarcar no Nordeste para tentar entender melhor esse público. "O mais importante é preço. Mas o consumidor também é mais bem informado hoje. Ele quer produtos atualizados, quer vestir o que vê na novela, na TV", afirma Rosemma Maluf, filha do empresário e gerente de marketing do empreendimento.
No entorno do Outlet Center vivem 400 mil pessoas - na vizinhança mais próxima, são 170 mil. Ainda assim, não há shopping do gênero para lhe fazer concorrência direta na região. Além da clientela potencial, há também oferta de imóveis. Segundo levantamento da prefeitura de Salvador divulgado no mês passado, existem 101 galpões industriais abandonados na Península de Itapagipe similares ao reformado e hoje ocupado pelo Outlet Center.
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