O real cada vez mais forte
O fortalecimento da moeda brasileira diantedo dólar não é um soluço. É uma realidadeque tende a ficar e mudar para melhor a vidadas pessoas e o rosto da economia.
• Um casal de classe média que pretendesse visitar a Disney World junto com os dois filhos teria de gastar, em 2003, o equivalente a dois meses de salário. Hoje a mesma viagem custa a metade.
• Uma dermatologista que quisesse equipar seu consultório com uma máquina de depilação a laser pagaria 450 000 reais pelo aparelho há quatro anos. Hoje o equipamento sai por 300 000 reais.
• Empresas brasileiras modernizam seus processos, compram máquinas novas e se associam a estrangeiros como raras vezes se viu.
• O governo praticamente recomprou toda a sua dívida em dólar.
• A entrada em massa no mercado brasileiro de produtos cotados em dólar e comprados em real forte tende a segurar a inflação, puxando todos os preços da economia para baixo.
Os fatos acima são facetas de uma única evolução, inédita e quase silenciosa, da economia brasileira, a valorização do real diante do dólar. A moeda brasileira subiu 58% em relação à americana nos últimos quatro anos, induzindo a uma mudança brutal no setor industrial e no padrão de consumo dos brasileiros. Desde o começo do ano o dólar recuou 5% e sua cotação já beira a barreira dos 2 reais. Essa marca é chamada de "barreira psicológica" – ou seja, as pessoas assumem que se chegar a 2 reais o dólar deve continuar caindo a um ritmo ainda mais forte. Muita gente, os consumidores principalmente, torce por isso. O real valorizado aumentou o poder de compra dos brasileiros. O fenômeno derrubou os preços dos produtos importados ou cotados em dólar. Pequenos empresários e profissionais liberais conseguem estudar no exterior e investir em seus negócios, importando equipamentos de última geração. Hospitais compram novos aparelhos e fábricas aproveitam o bom momento para modernizar seu parque industrial. "A julgar pela revolução das contas externas, o Brasil é hoje um outro país", diz Walter Molano, sócio do banco de investimentos americano BCP Securities, especializado em América Latina. Para Molano, os ventos deverão seguir favoráveis nos próximos anos, em decorrência da ascensão chinesa e também da Índia.
Tudo isso pode parecer familiar aos brasileiros. Afinal de contas, o país já viveu outros momentos de fortalecimento cambial. Mas há uma mudança estrutural em curso, e ela veio para ficar. O Brasil caminha, como nunca antes, em sintonia com a economia mundial. Ainda que fatores conjunturais ou momentos especulativos possam aparecer no horizonte, o fato é que a estabilidade do real se dá pelo fortalecimento de alicerces econômicos internos que se mantêm intactos há treze anos. Não se trata de um soluço, mas de uma realidade que tende a perdurar. A inflação caiu a níveis civilizados, a dívida externa deixou de ser problema e as contas públicas foram ajustadas. Pela primeira vez na história o governo brasileiro deixou de ter uma dívida externa para tornar-se credor externo. Esse amadurecimento institucional permitiu ao país adotar um regime de câmbio flutuante, no qual as cotações das moedas oscilam livremente de acordo com a lei da oferta e da procura. Quando um país vai bem, ele atrai investimentos e sua moeda ganha força. É o que tem acontecido no Brasil. O governo perdeu a prerrogativa de determinar a taxa de câmbio. No passado, o governante de plantão interferia nas cotações para beneficiar esse ou aquele setor. Em todo o mundo, tal modelo fracassou e foi abandonado, porque trouxe endividamento, inflação e baixa produtividade. A economia brasileira virou essa página e tornou-se sólida o bastante para ingressar em uma nova fase de prosperidade.
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